Serra da Mantiqueira e os segredos gastronômicos escondidos entre montanhas e araucárias

*Fotos: Isabela Lapa/Coisas de Mineiro

Eu sempre digo que mais interessante que saber o que estamos comendo e a origem de cada um dos ingredientes colocados no nosso prato, é saber a história por trás de cada um deles.

Acontece que só conseguimos conhecer essa história se tivermos a oportunidade de encontrar as pessoas que fazem parte da produção e que cuidam de todos os detalhes para garantir o casamento perfeito entre qualidade e sabor.

E foi em busca dessas pessoas e histórias que os Chefs de alguns restaurantes da Pampulha organizaram uma expedição especial pela Serra da Mantiqueira, que é dividida entre Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro, mas que tem 60% do território dentro do nosso estado.

Quando recebi o convite para embarcar com eles na viagem, eu não pensei duas vezes antes de aceitar, afinal, percorrer Minas Gerais é o que eu mais gosto de fazer. O que eu não imaginava, contudo, era que as estradas da Mantiqueira proporcionariam experiências tão ricas e tão únicas.

Lá você sabe que é Minas pelas montanhas, mas fica em dúvida quando fecha os olhos e sente o clima, que é bem diferente do que estamos acostumados aqui em Belo Horizonte e também nos interiores próximos.

Mas é lá, onde as águas são preciosas e as araucárias não param de se exibir, proporcionando paisagens inesquecíveis e marcantes, que estão escondidos queijos, cafés, doces, geleias, azeites e cervejas que surpreendem não só pelo sabor, mas também pelo cuidado dos produtores, que se esforçam diariamente para serem melhores no que fazem e levarem experiências ainda mais gratificantes aos consumidores.

Independente dos empecilhos e das dificuldades que envolvem o empreendedorismo na área gastronômica, todos estão lá, ao redor da família, com um sorriso no rosto e com uma vontade enorme de mostrar para Minas, para o Brasil e para o mundo, que a Mantiqueira tem muito a oferecer.

E em apenas três dias de passeio eu voltei com a mesma vontade, afinal, as riquezas daquela região precisam ser descobertas, já que comprovam o que sabiamente disse Guimarães Rosa: Minas são muitas. 

Com paradas rápidas e uma breve conversa em cada lugar, uma coisa eu aprendi com a Carolina Daher, jornalista gastronômica que também acompanhou a expedição: “comida boa não mente”.

Em todos os lugares visitados, independente das ricas explicações e das trocas entre os produtores e os chefs, era na hora que experimentávamos os produtos que tudo fazia sentido. A visão, o olfato, o tato e o paladar recebiam tão bem cada degustação que isso era suficiente para termos a certeza da qualidade, da procedência e do afeto colocado em tudo.

É por isso que digo, repito e insisto que para viver experiências gastronômicas você não precisa entender de gastronomia ou ter uma graduação na área. Você precisa, apenas, se abrir para o novo. É muito mais sensação que conhecimento, pode acreditar!

 

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Para fazer um passeio diferente, conhecer novas pessoas e se encantar ainda mais por Minas Gerais, você pode seguir o mesmo roteiro que o nosso, então já prepara o papel e a caneta para anotar todas as paradas:

CRUZILHA

Em Cruzilha a primeira parada foi no Laticínio Osório. É lá que o Sandro Antunes produz o Montanhês Capa Preta, um queijo tipo parmesão com cinco meses de maturação e uma capa de resina natural, que é pintada com um pincel e demora três dias para ficar pronta. O sabor é forte e picante, mas combina muito com um bom café.

Também foi lá que conhecemos o Queijo Du’Tutti, um queijo tipo parmesão, que é produzido pelo Francisco de Franco em pequena quantidade – são apenas 75 queijos pequenos por dia.

Interessante que para o Francisco, mais importante que distribuir o queijo é levar as pessoas até lá, para que elas possam aprender sobre o processo de produção, então, caso queira visitar, com certeza ele terá enorme prazer em receber. 

Contatos: 

(35) 99987-1756 – Laticínio Ozório

(35) 99894-1082 – Queijo Du’Tutti

AIURUOCA

Eu só conhecia Aiuruoca pelas cachoeiras, que todos falam que são deslumbrantes tanto pelas quedas d’águas quanto pelas paisagens que as rodeiam. Porém, nessa viagem eu descobri que é lá que fica a Fazenda do Azeite Olibi, um produto diferenciado, com acidez de 0,09, o que permite que a gente sinta a picância e também o sabor frutado, que é essencial em um azeite extra virgem.

O Nélio Weiss, produtor e proprietário, já abre o espaço para visitações guiadas, que contemplam passeio entre as oliveiras e também uma degustação ao final.

Se você for até lá pode (e deve) aproveitar para visitar o Vale do Matutu e almoçar no Restaurante da Tia Iraci, que reúne afeto, simplicidade e mineiridade.

Em um lugar pequeno e não tão fácil de chegar, nós nos deparamos com pessoas sorridentes, leves e que amam cozinhar. No fogão, comida que alimenta a alma: feijão, arroz, farofa, couve, carne, pastel de angu, mandioca e muito mais. Tudo extremamente bem executado, com gosto de casa e aquele aroma que preenche o coração. 

Caso sobre um tempo, uma opção interessante é o Sítio Cambará. Lá as geleias são totalmente artesanais e o processo é todo manual. Eles fazem entre 200 e 300 potes por mês, e os sabores são amora, mirtillo, framboesa e fisális.

Contatos:

www.olibi.com.br ou (35) 99983-0957 – Ólibi Azeites

www.tiairaci.com.br ou (35) 99844-5212 – Restaurante Tia Iraci

(35) 99939-1705 – Sítio Cambará 

ALAGOA

É lá em Alagoa que fica a loja Oswaldo Martins, do Queijo d’Alagoa. Com produtos de vários produtores da região, a história do lugar começou no ano de 2009, quando o Oswaldinho, como é carinhosamente conhecido, decidiu vender queijos pela internet, em uma cidade onde a internet ainda era a rádio.

Ele inovou no mercado e apesar de no início ter vendido muito pouco, hoje ele vende 1 tonelada por mês pelo site. Todos os queijos são de produtores locais e entre as fotos destaquei o queijo Coronel, que é maturado por 6 meses e leva uma camada de azeite de oliva. São apenas 20 queijos a cada 6 meses.

Contatos:

www.queijodaalagoa.com.br ou (35) 99885-6638.

SÃO LOURENÇO

Eu posso recusar muitas coisas na vida, mas nunca recuso um bom doce de leite. Se for São Lourenço e direto na loja da fábrica, eu não só não recuso, como me jogo por completo. Na visita à cidade nós passamos por lá depois de uma agradável caminhada no Parque das Águas, e eu descobri muitas combinações do meu doce preferido, além de produtos diferentes como uma pasta de Truta Defumada que foi uma grande surpresa.

Porém é lá, na cidade que é famosa pela água e pelos doces, que fica o Laticínios Miramar, responsável pela produção do primeiro queijo catupiry do Brasil. Hoje em dia eles fazem apenas o Cremelino, que tem a mesma origem e um sabor ainda mais intenso.

Trouxe para casa um Cremelino de Raspa que conquistou a família inteira. Ele é branquinho, cremoso e com aqueles queimadinho de fundo de panela que são absurdamente agradáveis para o paladar.

E para os fãs de cafés, uma grande surpresa: é lá que fica fábrica do Unique, um café artesanal que já ganhou um concurso mundial. Além da loja eles tem um passeio na fazenda e os interessados podem fazer uma rota chamada de Rota do Café Especial, para aprender tudo sobre a bebida e sobre o processo de torra. 

Contatos:

(35) 3332-3288 – Loja da Fábrica Doces São Lourenço

(35) 3331-1608 – Laticínios Miramar

www.uniquecafes.com.br ou (35) 3331-1086 – Unique Cafés

SOLEDADE DE MINAS

Com o objetivo de fazer algo diferente, Vicente Marin viajou por vários países do mundo e voltou para a Fazenda San Genaro com uma decisão: produzir queijos finos. 

Hoje, ao lado da família, ele administra a marca Val Di Fiemme, e apesar de ainda produzirem queijos com leite de vaca e de cabra, o diferencial da empresa são os queijos com leite de ovelha, especialmente o queijo neve, que conta com um mofo branco e é produzido na versão tradicional ou recheada (nozes, pimenta, vinho etc).

Contatos:

www.valdifiemme.com.br ou (35) 99800-3437

ITAJUBÁ

Os apaixonados por cachaça e cerveja vão gostar de passar em Itajubá para visitar a fábrica da Musa.

Lá o produto mais antigo e mais famoso é a cachaça, com foco na cachaça de banana, que é produzida uma vez ao ano. Porém, eles também produzem cerveja artesanal e já contam com 14 estilos, sendo 5 larger e 9 ale. 

Aos sábados, com foco em ensinar sobre a cerveja e proporcionar experiências diferentes aos clientes, eles estão realizando visitas guiadas e sem custo. 

Contatos: 

www.musaagro.com.br ou (35) 98810-1293

DELFIM MOREIRA

Já tem 40 anos que o Sr. Paulo Alves se aproveita da baixa temperatura das águas na região da Mantiqueira, que variam entre 11º e 18º, para cultivar trutas na Truticultura Brumado.

A produção acontece no fundo da sua casa, então para visitar é preciso agendar. De toda forma, se quiser apenas experimentar uma truta fresca, você pode passar no Sabor da Mantiqueira, que é o restaurante dele e da família, e fica no Centro de Defilm Moreira. 

Contato:

(35) 99927-3420

SANTA RITA DO SAPUCAÍ

Essa parada, que não estava prevista, foi uma grande surpresa. É lá que fica a cafeteria Grandpa Joel’s Coffe, que além de produzir o próprio café conta com vários produtos que levam a bebida, entre eles geleias, cervejas e licores. 

Com um cardápio delicioso que valoriza produtos e produtores locais, o ambiente é intimista e agradável, então dá para ficar horas por lá descansando e conversando.

Durante a visita não deixe de experimentar o Pão Cheio e a Pasta Flora, que são patrimônios imateriais da cidade e surpreendem pelo sabor e maciez. 

Contatos:

www.grandpajoelscoffee.com ou (35) 99827-9600

EM BELO HORIZONTE

Antes de organizar esse passeio você pode experimentar alguns desses produtos nos restaurantes participantes da 10ª edição do Circuito Gastronômico da Pampulha, que começa hoje, dia 11 de setembro, e vai até o dia 06 de outubro.

Eu disse lá no início do texto que mais importante que saber o que tem no nosso prato é saber a história por trás dele, você lembra? No caso dos pratos do circuito a história envolve dedicação, pesquisa e muito estudo de cada um dos Chefs participantes. Ela começa antes dos ingredientes estarem no restaurante e antes mesmo dessa expedição. É isso que torna tudo tão rico e tão único.

Ao todo são 16 participantes e cada um utilizou um ingrediente diferente da Mantiqueira para a criação de um prato exclusivo. Os restaurantes são: Amadís, Anella Ristorante, Casa do Chef, Dal Grano, Degraus Espaço Gastroculinário, Do Peixe, La Palma, Maria das Tranças, Mineiros Beer, Mister Art Empório Cervejeiro, Paladino, Soul Jazz Burguer, SushiNoto, Tudo na Brasa, Único Pampulha e Xapuri.

Todas as informações estão no site oficial do evento e também no Instagram do Circuito. 

Fique atento porque no dia 20 de setembro o Mineirão vai receber a festa de 10 anos do Circuito Gastronômico da Pampulha e os ingressos já estão sendo vendidos no Sympla.

Agora, depois de toda essa vivência, volto com ainda mais certeza que Mia Couto estava coberto de razão quando disse que “Cozinhar não é serviço. Cozinhar é um ato de amor aos outros”.

Lembrança do Parque das Águas de Caxambu

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