*por Izabella Figueiredo
No zigue-zague das linhas e agulhas, bordadeiras e tecelãs do Vale do Jequitinhonha desafiam docemente as políticas de produção rápidas e mecanizadas. Reunidas por Viviane Fortes, consultora de projetos sociais, o propósito das Bordadeiras do Curtume é driblar o tempo e rumar praticando o que sabem de melhor: bordar, tecer e prosear. E é nesse exercício diário que o grupo ruma mais esperançoso a uma vida até então permeada por dissabores. São jovens e senhoras que enfrentam problemas como depressão, ausência dos maridos e pobreza e fazem desses encontros um escape enquanto bordam cenários aos quais estão bem acostumadas.
Lá a ordem é estar em casa. Os animais, cactos e a fé típica do Cerrado estampados em cada peça são previamente ilustrados por Diogo, jovem morador do Curtume e filho de uma das senhoras participantes do projeto. Há tempos ele executa os traços para que as bordadeiras preencham com linhas coloridas em ponto cheio. O resultado não poderia ser mais autêntico e afetivo.
Merecidamente, em 2019, as bordadeiras tiveram a chance de adentrar o circuito fashion com já com o pé direito. É que Liliane Rebehy, diretora criativa da mineira Coven (já reconhecida pelo seu tricô e modelagem impecáveis) se encantou com o trabalho artesanal dessas mulheres e contou com elas como inspiração e parceria para lançar o inverno/2019 da sua marca.
O fruto são t-shirts e camisas de tricoline que trazem as ilustrações de Diogo em sua estamparia e o delicado trabalho das Bordadeiras do Curtume na execução dos bordados. (Vale ressaltar que o lucro destas peças serão convertidos em fundos para o grupo). Além das figuras bucólicas típicas como a árvore e o burro estamparem peças bordadas em ponto cheio, o trabalho de Diogo também pode ser visto pela primeira vez em elegantes tricôs de cashmere e vórtex.
No Inverno/19 da Coven, o médio Jequitinhonha também foi representado na cartela de cores e material. Calças de sarja, peças em tricô e nylon coloridas foram coloridas pelo sertão mineiro: tons terrosos sóbrios e até o neon, em uma retratação diferente da região. Cintos com fivelas em madeira imbuia trazem para os acessórios mais uma peculiaridade do Vale. Essa madeira nobre e resistente também adorna o salto dos sapatos em couro. Para finalizar, as colchas produzidas nos teares manuais do Curtume deram origem a bolsas feitas em parceria com a também mineiríssima Adô. Muita mineiridade, do jeito que a gente gosta!